Translation into Portuguese of the AIL Statement on Sudan
We hereby share the translation into Portuguese found here.
A continuidade da exploração e o silencioso extermínio de um povo no Sudão
A história moderna da África não é apenas uma história de pobreza ou guerra. É a história de um sistema de pilhagem que dura há séculos. Desde o tráfico de escravos até às redes financeiras globais atuais, a cadeia nunca foi quebrada. As ferramentas mudaram, mas o objetivo permanece o mesmo: subjugar o povo, a terra e a riqueza da África aos interesses estrangeiros.
Dos navios negreiros ao domínio colonial, da chamada missão civilizadora à ideologia do mercado livre, todas as etapas levaram ao mesmo resultado. A África foi empobrecida por suas próprias riquezas. As fronteiras traçadas na Conferência de Berlim dividiram não apenas as terras, mas também os destinos de seus povos. No século XX, surgiram movimentos de independência, mas as correntes econômicas nunca foram quebradas. O colonialismo direto deu lugar a novas formas de dependência baseadas em dívidas, investimentos e negócios de armas.
Hoje, todos os conflitos no continente refletem essa mesma continuidade histórica. O imperialismo não avança apenas por meio de tanques ou exércitos. Ele também atua por meio do comércio, da dívida, da imprensa e das guerras civis. O Sudão é um dos elos mais recentes dessa cadeia. Da Argélia ao Congo e de Ruanda à Líbia, a África ainda carrega as cicatrizes da mesma violência estrutural. São guerras travadas por recursos, recursos que continuam alimentando novas guerras.
Para compreender a guerra no Sudão, é preciso olhar para trás, para cinco séculos de pilhagem, resistência e renascimento. Cada aldeia incendiada e cada criança faminta carregam o eco dos antigos navios negreiros e campos de mineração. É a mesma história repetida, o roubo da riqueza de um povo e sua vontade inabalável de resistir.
Esta não é apenas uma guerra política, mas também econômica. Ouro, petróleo e goma arábica são os motores ocultos por trás dela. O Sudão produz cerca de 70% da goma arábica mundial, usada em alimentos, cosméticos e medicamentos. Tanto o exército quanto as “Forças de Apoio Rápido” (RSF, em inglês) controlam a produção e o transporte nos territórios que controlam. As mercadorias são contrabandeadas através do Chade, Egito e Sudão do Sul para os mercados globais. A guerra se financia a si mesma e se alimenta da morte.
Este sistema é uma versão moderna do colonialismo clássico. A RSF é apoiada pelos Emirados Árabes Unidos, pelas forças de Haftar da Líbia e por Israel, enquanto o Egito, a Rússia e a China apoiam o exército. As empresas internacionais aderiram a esta economia de guerra para manter ou expandir a sua quota no comércio de goma arábica.
O silêncio em torno do Sudão não é acidental. Os Estados, as empresas e os intermediários que lucram com o conflito não têm interesse em chamar a atenção para ele. A diplomacia, o comércio e os meios de comunicação operam à sombra dos interesses económicos. O silêncio tornou-se uma política deliberada que mantém vivo o colonialismo moderno. As classes dominantes fecham os olhos para proteger o comércio e as alianças, e o povo paga o preço.
Mulheres e crianças são as principais vítimas dessa guerra. Estupros, casamentos forçados, queima de aldeias e execuções em massa são comuns. O frágil sistema de saúde entrou em colapso. A cólera e outras doenças se espalham rapidamente, enquanto comboios de ajuda humanitária são atacados. Relatórios da ONU alertam que o Sudão está à beira do colapso social total.
A guerra no Sudão expõe como o imperialismo funciona hoje. Não se trata de um confronto entre dois generais, mas de um sistema no qual o capital, os Estados e as redes de armas se unem em busca de lucro e poder.
O silêncio dos governos dos diferentes países do mundo não é indiferença, é cumplicidade. Aqueles que falam alto sobre democracia ficam em silêncio quando seus interesses estão em jogo. No entanto, a solidariedade global das massas anti-imperialistas demonstrada pela Palestina prova que o silêncio pode ser quebrado.
A tragédia do Sudão não é um evento local, mas parte das contradições estruturais do próprio sistema imperialista. De um lado, há fome, destruição e morte. Do outro, uma economia global que lucra com a catástrofe. O capitalismo não pode existir sem crise. Guerra, exploração e devastação não são exceções ao sistema, são seus fundamentos. O que está acontecendo no Sudão não pode ser separado da ocupação na Palestina, da exploração mineira no Congo ou da instabilidade no Sahel. Enquanto as feridas continuam a sangrar na Ucrânia e na Palestina, a Venezuela é a próxima na fila. Todas essas são faces diferentes do mesmo mecanismo. A solução não pode vir de um único país. Ela deve vir de uma Frente Unida e internacional de solidariedade entre todos os povos oprimidos. O anti-imperialismo não é um slogan, mas uma postura histórica essencial para que a humanidade viva com dignidade.
A libertação do Sudão está ligada à libertação da Palestina e de todos os povos que resistem à exploração e à dominação.
O que acontece hoje no Sudão segue um padrão que se repete em todo o mundo: dependência econômica, controle militar, massacres e silêncio internacional. A destruição no Sudão não é uma tragédia isolada, mas um reflexo da ordem global do imperialismo. O mesmo sistema continua a operar no Congo, na Palestina, no Haiti e em todos os cantos do mundo explorado. Em todos os lugares vemos o mesmo padrão: dependência, guerra e silêncio. Quebrar essa cadeia não é mais um apelo moral, mas uma necessidade para a sobrevivência da humanidade. Há momentos na história em que as contradições atingem tal intensidade que esperar se torna outra forma de recuo. Estamos vivendo um desses momentos agora. É por isso que dizer “algo precisa ser feito” ou “uma organização precisa ser construída” não é mais suficiente. Essas frases servem apenas para acalmar a consciência, reduzindo a vontade política a salas de conferência e declarações à imprensa.
A organização anti-imperialista deve ir além das palavras. Ela deve enfrentar não apenas os sintomas, mas toda a estrutura do sistema imperialista. As guerras, a destruição e as crises que testemunhamos hoje não são acidentes, são as consequências inevitáveis dessa ordem. A Liga Anti-imperialista (LAI) está sendo construída com plena consciência dessa realidade. Sua formação continua como parte de uma responsabilidade histórica de organizar a vontade coletiva dos povos em uma força consciente e coordenada contra o imperialismo.
COMITÊ COORDENADOR DA LIGA ANTI-IMPERIALISTA
Novembro de 2025